FILIPE COUTINHO
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
A Fifa pressiona as 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 a "cooperar" nas licitações dos estádios e a contratar empresas patrocinadoras da entidade.
A Folha ouviu reclamações dos representantes dos governos estaduais, sob condição de anonimato, e conseguiu cópia de documentos que confirmam o lobby.
Os papéis mostram que o departamento de marketing da Fifa e o Comitê Organizador Local (representante da entidade no país-sede do Mundial) atuaram em favor de uma fabricante de brindes, uma empresa de energia solar e uma seguradora.
As três empresas são apresentadas como líderes de mercado e parceiras oficiais da Fifa, o órgão máximo de futebol, cujos dirigentes foram recentemente alvo de denúncias de corrupção, entre elas o pagamento de propina na eleição das sedes das Copas de 2018 e 2022.
Entre os documentos obtidos pela Folha, estão um e-mail e uma apresentação de PowerPoint em que a Fifa manifesta interesse na contratação da parceira ADM para a confecção de brindes, como bonés e chaveiros.
Os documentos são assinados pelo diretor de marketing da Fifa no Brasil, Jay Neuhaus. O recado: ou a sede contrata a ADM ou paga 17% de taxa de licenciamento caso opte por outra fabricante.
As sugestões de contratação colocam as cidades-sedes diante de um impasse.
Agradar à entidade, pedindo a consórcios e empreiteiras responsáveis pelas obras que contratem as empresas ligadas à Fifa, ou, no caso de contratos pagos apenas com dinheiro público, seguir a Lei de Licitações, arcando, assim, com custos extras para atender ao padrão Fifa.
Em e-mail de abril, enviado após alerta das cidades para as restrições da legislação, Neuhaus fez um pedido.
"Esperamos ter a cooperação de vocês em adotar a ADM. Nós entendemos que as sedes, por serem entidades públicas, estão atreladas aos processos de licitação, porém esperamos encontrar uma forma de garantir que a ADM sempre faça parte deste processo", dizia o texto.
No e-mail, o diretor da Fifa elogia a equipe da ADM como "a mágica do projeto".
A Folha também teve acesso a e-mail enviado em janeiro deste ano aos coordenadores das 12 cidades-sedes e assinado por Carlos de la Corte, consultor do COL.
De la Corte pede que a chinesa Yingli seja contatada por oferecer serviços de energia "alinhados" com a Fifa. E solicita às cidades que verifiquem "as possibilidades de parceria". De la Corte diz que a Yingli tem o selo de obra sustentável, exigência da Fifa para as arenas da Copa.
O consultor do COL encaminha carta assinada pelo diretor-geral de marketing da Fifa, Thierry Weil, que diz que a entidade "considera que os produtos da Yingli Solar podem ser a melhor solução para a eficiência energética dos estádios da Copa".
Weil e De la Corte pedem sigilo sobre o fato de a empresa ser patrocinadora da Copa -a parceria só foi anunciada oficialmente na última quarta, cinco meses após o e-mail.
O diretor-geral de marketing da Fifa também assinou outro ofício anunciando a Liberty Seguros como seguradora do próximo Mundial.
O documento foi encaminhado por e-mail, por meio do COL, para 37 representantes das cidades-sedes.
Weil pede aos coordenadores que contatem o patrocinador e destaca as qualidades da Liberty Seguros.
"São dezenas de pedidos", afirma secretário de PE
Apesar de constrangidas com o lobby da Fifa, as sedes temem ser prejudicadas caso não atendam à entidade. Em público, só Pernambuco critica a Fifa.
O secretário da Copa-14 no Estado, Silvio Bompastor, afirmou em audiência no Senado, no dia 24 de maio, que são "dezenas e dezenas de pedidos".
"A Fifa nos manda um ofício que diz: se você não contratou a iluminação, não contrate, porque estamos definindo o parceiro e vamos indicá-lo. E assim com a grama, o placar, a tinta que vai pintar a barra do campo e com dezenas e dezenas de itens."
Procurado dias depois, Bompastor baixou o tom das queixas. Disse que recebeu "e-mails com sugestões" e que busca um modo de atender à Fifa e respeitar a lei.
OUTRO LADO
Oferecer parceiro é conduta padrão, justifica a Fifa
DE BRASÍLIA
A Fifa admitiu que mandou comunicados às sedes oferecendo parcerias com patrocinadores, mas afirmou que não obriga as cidades a contratarem as empresas.
"Somente informamos, como procedimento padrão, sobre oportunidades de cooperação com os parceiros da Copa-2014 da Fifa, em especial para usar a sinergia e as vantagens deles." A entidade diz entender que as cidades- -sedes devem seguir as leis aplicáveis para contratar produtos e serviços.
O COL (Comitê Organizador Local) declarou que não responde em nome de Carlos de la Corte, consultor terceirizado da entidade.
De la Corte disse que, a pedido, mandou o e-mail com ofício da Fifa apresentando a empresa de energia: "Tanto que o e-mail continha, anexo, um documento assinado por diretores da entidade".
O consultor disse que enviou apenas "sugestões" e que não prometeu o selo verde exigido pela Fifa.
"Isso não foi afirmado. Assim como os painéis solares, outras fontes de energia renováveis estão alinhadas com a política de Green Goal da Fifa. Tais soluções estão presentes nos projetos de todos os estádios que buscam o selo de certificação ambiental, e a escolha, como deixei claro, está 100% nas mãos das cidades", declarou.
A Liberty Seguros e a Yingli Energia confirmam que a Fifa enviou cartas de apresentação sobre as empresas, mas negam influência da entidade nas contratações.
"O objetivo da mensagem foi o de apresentar a Liberty Seguros como um novo membro do grupo de apoiadores nacionais da Copa do Mundo", diz a seguradora.
A Liberty negou ter feito pedidos à Fifa para que fossem ofertados seus produtos. Também disse não haver contrapartidas no contrato de patrocínio para a Fifa oferecer seus serviços às sedes.
A Yingli esclareceu que está trabalhando em estreita parceria com a Fifa e com os organizadores locais em projetos de energia renovável.
"A Fifa mandou a carta em nosso nome, anunciando a parceria e o apoio aos nossos negócios. Foi uma carta pública padrão", disse a empresa, ressaltando que a decisão de contratá-la cabe às sedes.
A ADM informou que as sedes são "encorajadas" a contratá-la, mas que não há influência da Fifa. Disse ainda que só mantém contato com o departamento de marketing da entidade em Zurique.
A Fifa afirmou que, caso seja escolhido outro fabricante de brindes, os produtos estarão sujeitos às regras de propriedade intelectual.
Segundo as 12 cidades-sedes, nenhuma das empresas indicadas pela Fifa foi contratada até agora.
Oferecer parceiro é conduta padrão, justifica a Fifa
DE BRASÍLIA
A Fifa admitiu que mandou comunicados às sedes oferecendo parcerias com patrocinadores, mas afirmou que não obriga as cidades a contratarem as empresas.
"Somente informamos, como procedimento padrão, sobre oportunidades de cooperação com os parceiros da Copa-2014 da Fifa, em especial para usar a sinergia e as vantagens deles." A entidade diz entender que as cidades- -sedes devem seguir as leis aplicáveis para contratar produtos e serviços.
O COL (Comitê Organizador Local) declarou que não responde em nome de Carlos de la Corte, consultor terceirizado da entidade.
De la Corte disse que, a pedido, mandou o e-mail com ofício da Fifa apresentando a empresa de energia: "Tanto que o e-mail continha, anexo, um documento assinado por diretores da entidade".
O consultor disse que enviou apenas "sugestões" e que não prometeu o selo verde exigido pela Fifa.
"Isso não foi afirmado. Assim como os painéis solares, outras fontes de energia renováveis estão alinhadas com a política de Green Goal da Fifa. Tais soluções estão presentes nos projetos de todos os estádios que buscam o selo de certificação ambiental, e a escolha, como deixei claro, está 100% nas mãos das cidades", declarou.
A Liberty Seguros e a Yingli Energia confirmam que a Fifa enviou cartas de apresentação sobre as empresas, mas negam influência da entidade nas contratações.
"O objetivo da mensagem foi o de apresentar a Liberty Seguros como um novo membro do grupo de apoiadores nacionais da Copa do Mundo", diz a seguradora.
A Liberty negou ter feito pedidos à Fifa para que fossem ofertados seus produtos. Também disse não haver contrapartidas no contrato de patrocínio para a Fifa oferecer seus serviços às sedes.
A Yingli esclareceu que está trabalhando em estreita parceria com a Fifa e com os organizadores locais em projetos de energia renovável.
"A Fifa mandou a carta em nosso nome, anunciando a parceria e o apoio aos nossos negócios. Foi uma carta pública padrão", disse a empresa, ressaltando que a decisão de contratá-la cabe às sedes.
A ADM informou que as sedes são "encorajadas" a contratá-la, mas que não há influência da Fifa. Disse ainda que só mantém contato com o departamento de marketing da entidade em Zurique.
A Fifa afirmou que, caso seja escolhido outro fabricante de brindes, os produtos estarão sujeitos às regras de propriedade intelectual.
Segundo as 12 cidades-sedes, nenhuma das empresas indicadas pela Fifa foi contratada até agora.
MUDANÇA EM LEI PODE PERMITIR MAIS GASTOS
A pressão da Fifa pode ganhar mais fôlego caso o governo federal aprove no Congresso o regime diferenciado de contratações para a Copa do Mundo de 2014. A medida pode abrir brechas para que, mesmo depois das licitações, as cidades-sedes gastem mais para se adequar às exigências da Fifa, sem limite de gastos.
A pressão da Fifa pode ganhar mais fôlego caso o governo federal aprove no Congresso o regime diferenciado de contratações para a Copa do Mundo de 2014. A medida pode abrir brechas para que, mesmo depois das licitações, as cidades-sedes gastem mais para se adequar às exigências da Fifa, sem limite de gastos.
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