quinta-feira, 10 de março de 2011

Aod Cunha para patrono da Feira do Livro

Por Juremir Machado da Silva

Eu gosto de futebol. Mas me cansa ver tudo resumido a Inter e Grêmio. Em qualquer lugar, gremistas e colorados começam a se provocar. Mesmo que seja de brincadeira. Às vezes, é por falta de assunto. Ou só para colocar um pouquinho de pimenta no cotidiano tedioso. Aos poucos, tudo vai se resumindo a isso, virando sectarismo.

Outro dia, alguém me perguntou se sou sócio do Inter. Claro que não. Eu não sou sócio de coisa alguma, de clube algum. Eu sou livre, independente e libertário. Indiquei Aod Cunha para a Academia Brasileira de Letras e para o Nobel da Literatura. Esqueci de indicá-lo para patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Vou citar três homens que conhecem profundamente a questão da reforma do Beira-Rio: Vitorio Piffero, Mário Sérgio Martins e Pedro Affatato. Eles dizem que o Inter pode fazer a reforma sozinho. Se tiver de arranjar parceria, que abra negociações. São contra cair no colo da Andrade Gutierrez.

Até dois meses atrás, o Inter estava seguro do que fazia. Aod Cunha entrou no Inter, com sua ideologia da parceria, e Luigi mudou de ideia. Pode ser simples coincidência. Mas Aod é a favor da parceria. É ideologia. Pura ideologia. Nada mais. Aod é desses mitos que a mídia ajudou a construir sem jamais analisar detidamente. A mídia é, em geral, conservadora. O discurso do déficit zero a encantou. Nunca se parou realmente para examinar a sua veracidade. Se o atual secretário da Fazenda diz que esse déficit zero não aconteceu, é coisa de petista. É ideológico. Como se a fúria contra o petismo também não fosse ideológica.

Eu não tenho partido. Meu partido é a liberdade. Sou franco-atirador. Aod jamais provou a existência do seu déficit zero. Deu uma melhorada nas contas. O resto foi marketing. Aí Aod virou mito. E parou no Beira-Rio.
A mídia caiu de quatro. O mesmo aconteceu com Jânio Quadros em 1960 e com Collor em 1989. Os saneadores fascinam a mídia. Os salvadores da pátria. A mídia adora também o discurso da privatização e da parceria. Cai de boca. Rima com a eterna crítica de que o Estado não sabe gerir. É um refrão inventado por quem tem interesse em se apossar do patrimônio público. Os clubes do futebol começam a ser visto como "públicos". É um filão que se quer explorar.

Imaginem só: apossar-se de parte do Inter por 20 anos! Basta dizer que vai criar emprego para a paixão ser fatal. Não importa a que custo o emprego será criado. Por exemplo, o custo da natureza. Ou a exploração repugnante como essa da parceira do Grêmio na Arena. Se depender de certa mídia e dos jovens yedistas e velhos britistas, Porto Alegre vira uma cidade dos emirados. Como se aceitar, sem discussão, algo tão impressionante? Por que a Andrade Gutierrez? Por que não outra?

Mário Sérgio Martins diz, na coluna do Hiltor Mombach, o melhor colunista de esportes do Rio Grande do Sul, que os números foram inflados para fazer o buraco parecer maior. É preciso assustar muito a torcida do Inter, apavorá-la dizendo que a Copa irá para o Grêmio, para que todos corram e se joguem nos braços de um empreiteira cujo nome ninguém sabe de onde saiu. A mídia não cai nessa balela por outra coisa que não seja a força do imaginário. Foi adestrada ao longo dos anos para acreditar nessa melodia. 

Se o Inter não tem dinheiro agora para a reforma, que não a faça. Vai perder a Copa do Mundo? Que perca. O São Paulo desistiu e fez muito bem. Por que o Inter não poderia fazer o mesmo? Por que vai parar no Grêmio? Azar. Em São Paulo, vai parar no Corinthians. A rivalidade Gre-Nal está sendo usada para satisfazer interesses financeiros poderosos. Eu continuo imaginando aquele final de novela retrô. A massa vermelha na frente do Beira-Rio gritando: – Fora Luigi. Fora Aod. Entreguistas!

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