quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Com proximidade da Copa, Comitê Popular segue mobilizado contra remoções em Porto Alegre

Por Ramiro Furquim/Sul21
Em bairros como Santa Tereza, Cristal e Vila Cruzeiro, centenas de famílias de Porto Alegre passam por remoções e despejos | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller/ Portal Sul 21
Quatro anos antes do início da Copa do Mundo, mobilizações populares já se organizavam em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Fortaleza, três das sedes do Mundial. Em distintas capitais, militantes de movimentos sociais e entidades ligadas aos direitos humanos, além de partidos políticos, contestavam as remoções, a criminalização e a repressão de moradores das áreas atingidas. A oito meses do início da competição, muitos resistem para garantir direitos básicos.
Em Porto Alegre, o Comitê Popular da Copa direcionou, desde o início, os seus esforços para a Zona Sul da cidade. Em Santa Tereza, no Cristal e na Vila Cruzeiro, centenas de famílias enfrentaram o problema das remoções e dos despejos, e muitos tiveram que deixar as casas que habitavam, alguns há décadas. José Fachel Araujo, 74 anos, vive há quarenta na Rua Cruzeiro do Sul – e como teve parte do seu terreno marcado pelo processo de duplicação da via, ainda não sabe de que maneira e até quando permanecerá no bairro.
Zé, como é conhecido na região, integra o Comitê Popular e afirma que os moradores não são contra a duplicação da Avenida Tronco, obra que irá transformar a geografia do bairro. Diz, no entanto, que o desejo da população das áreas atingidas é “garantir a permanência nas proximidades e ter a certeza de uma nova moradia”. Segundo Cláudia Favaro, arquiteta e militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Comitê calcula que as remoções em Porto Alegre envolvam, neste momento, cerca de oito mil pessoas – ainda que nem todas diretamente ligadas ao Mundial de futebol.
A arquiteta afirma que “todas as esferas institucionais foram percorridas” para denunciar as violações aos direitos humanos presentes nos processos de despejo. Já em 2010 foi realizada a primeira denúncia para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, analisada pela ministra Maria do Rosário. A Articulação Nacional dos Comitês Populares (Ancop), que reúne as forças municipais, chegou a levar a situação à Organização das Nações Unidas mais de uma vez.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Zé e Cláudia, militantes do Comitê Popular da Copa, denunciam violações de direitos humanos durante obras na capital gaúcha | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eles quebram algumas casas da rua, deixam outras sem água e sem luz, até que seja impossível permanecer”
O Comitê Popular da Copa defende a ideia do “chave-por-chave” como resistência às remoções. A estratégia é cobrar da Prefeitura de Porto Alegre a garantia imediata de uma nova casa para as famílias que terão as suas derrubadas, e não aderir ao aluguel social, que hoje está em R$ 500,00 por família. “Até que os apartamentos do Minha Casa, Minha Vida estejam construídos, quem optou pelo aluguel social fica sem ter para onde ir, com os pés na rua”, afirma Cláudia.
José Fachel conta que os 500 bônus moradia – no valor de R$ 52 mil – disponibilizados pela Prefeitura para os moradores removidos já foram esgotados. “Este valor é pequeno, não serve para comprar uma residência nos bairros da região. Aliás, não serve para quase nenhum lugar de Porto Alegre. Há muita gente indo para outras cidades ou para o litoral”, conta.
Cláudia também problematiza a migração de moradores da Vila Cruzeiro: “quem está indo para o litoral, por exemplo, sem qualquer garantia de emprego e renda, pode estar voltando em breve, sem ter onde morar em Porto Alegre. É muito difícil conseguir trabalho o ano inteiro por lá”. Os dois integrantes do Comitê Popular admitem que a resistência na Zona Sul fica mais complicada no momento em que a chegada da Copa do Mundo e a aceleração das obras se aproximam.
O método utilizado pela Prefeitura na retirada das famílias é questionado pelo Comitê. Segundo José, as máquinas do poder municipal acabam derrubando algumas casas por quadra, deixando as demais residências, por vezes de moradores que têm a situação indefinida, sem água ou luz. “Eles (os funcionários da Prefeitura) quebram algumas casas da rua, deixam outras por dias sem água, sem condições de se manter ali, de resistir”, relata.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Integrantes do Comitê apostam que as mobilizações populares ressurgirão com força em 2014 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Não queremos que os moradores fiquem expostos a riscos, apenas que as remoções aconteçam de forma mais digna”
No início de julho, poucos dias após as grandes manifestações que reuniram quase vinte mil pessoas no Centro de Porto Alegre, as ruas da Vila Cruzeiro e do Cristal também foram cenário de um protesto. Naquela noite, muitos dos moradores observavam a movimentação parados nas calçadas, mas ao passo em que a marcha seguia, se juntavam à caminhada. “A manifestação serviu muito para ampliar a mobilização, dar confiança aos moradores, mas não pôde impedir a continuidade deste processo”, lamenta Cláudia Favaro.
A duplicação da Avenida Tronco não deve ser finalizada até o início do Mundial, em junho de 2014. A Prefeitura de Porto Alegre privilegia as modificações próximas ao Estádio Beira-Rio, que sediará as partidas na cidade, e busca assegurar os recursos federais para que obras como a da Vila Cruzeiro se mantenham em andamento após a Copa. Para tanto, o Executivo municipal adéqua os financiamentos ao PAC Mobilidade, que mantém o financiamento mesmo após o encerramento da competição.
Os integrantes do Comitê Popular de Porto Alegre apostam que as mobilizações reapareçam com a mesma força no ano que vem. “Nós, como diversos movimentos, fizemos análises de conjuntura, e penso que este é um momento de ascenso. Com altos e baixos, claro, mas que pode crescer muito no ano da Copa e mais adiante, com as Olimpíadas”, conta Cláudia, que se mostra preocupada com o impacto do evento na Zona Sul da cidade.
“Como vai ficar Santa Tereza em 2014? O Exército vai mesmo ocupar o morro, criar uma zona de exceção?”, questiona. Para a arquiteta, o Mundial pode ser uma desilusão para muitos moradores do bairro. “Quem mora perto do Beira-Rio, em Santa Tereza, e pensa que vai poder vender cerveja, espetinho, sair para a rua e ganhar algum dinheiro, infelizmente vai se decepcionar. A FIFA não permitiria isso”, conclui.

Um comentário:

  1. Que coisa isso, precisa-se dar um jeito. Mas a copa tambem trara muita coisa boa. E falando nisso, este site www.copadomundo.info esta oferecendo 4 ingressos gratis para o final da copa. Todo mundo deveria responder ao questionario e concorrer! Nunca se sabe ne. Abracos

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