sábado, 9 de março de 2013

8 de Março: Mulheres denunciam remoções e violações de direitos pela Copa do Mundo




Cerca de 700 mulheres da Via Campesina, Levante Popular da Juventude, MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) e moradoras da Avenida Tronco, na Zona Sul de Porto Alegre, realizaram um protesto, na manhã desta sexta-feira, no canteiro de obras da via. Elas saíram em marcha da Av. Divisa e caminharam pela Tronco até o canteiro de obras. Depois, seguiram ao CAR (Centro Administrativo Regional) da Cruzeiro, onde fica o escritório da prefeitura municipal para negociar o bônus moradia e encaminhar o atendimento das famílias que serão removidas para a duplicação.

Seleção de fotos feita pelo Quilombo do Sopapo



A duplicação da Avenida Tronco é considerada, pela prefeitura de Porto Alegre, uma das obras prioritárias para a Copa do Mundo de 2014 na cidade. A via alternativa liga diretamente outras regiões da Capital ao Estádio Beira-Rio, onde ocorrerão os jogos do evento - viabilizando a chegada dos torcedores ao local.


Mulheres da Avenida Tronco e do Morro Santa Teresa presentes na luta.
Crédito das fotos deste post: Leandro Anton/ Quilombo do Sopapo 



No entanto, as obras estão sendo um desastre para as 1.500 famílias da comunidade, em grande parte pobres, que serão removidas (boa parte delas ainda não sabe nem para onde vai) para que a duplicação seja efetivada. Elas denunciam violações de direitos humanos e sociais, com diversas consequências para a população, especialmente para as mulheres. São essas as mais afetadas pelas remoções, já que a maioria delas são as chefes de família, respondendo pela sobrevivência e pela educação de seus filhos.





Entrega da carta para Marcos Botelho, 
secretário adjunto do Departamento
Municipal de Habitação (Demhab)

No panfleto distribuído durante o protesto, as manifestantes salientam que "as remoções, de maneira geral, têm sido feitas de forma arbitrária, onde as únicas alternativas ofertadas pela prefeitura são o aluguel social e o bônus moradia". Também argumentam que a moradia adequada foi reconhecida como direito humano em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tornando-se um direito humano universal.

“Nós não somos contra o progresso. Nós somos contra a inversão da prioridade. Nós somos contra priorizar a avenidade do que as moradias. Nós somos contra não considerar a história das pessoas. Eu nasci e me criei na Tronco. Hoje, não tenho nenhuma condição real de ficar aqui, porque as moradias não estão sendo construídas, não tem previsão de serem entregues”, desabafa Bruna Rodrigues, moradora do local desde o nascimento, sobre a pressão que a Prefeitura coloca sobre a comunidade para que deixem suas casas, mesmo sem a garantia de novas moradias.

Cerca de 8 mil famílias porto-alegrenses, cerca de 36 mil pessoas, serão afetadas por caus
a das obras da Copa.

Mística de encerramento do protesto na Avenida Tronco

























Veja o vídeo do Coletivo Catarse é sobre a manifestação que as mulheres fizeram hoje:


segunda-feira, 4 de março de 2013

ESPN apresenta a série “À Beira da Copa num Porto pouco Alegre”


Faxina social em terras gaúchas


1 bilhão de reais, esse é o custo total do investimento em mobilidade urbana na capital gaúcha para a Copa do Mundo de 2014. Durante três dias, uma equipe da ESPN percorreu todos os canteiros de obras e descobriu que no caminho estão 8 mil famílias que serão diretamente afetadas pelo chamado legado.

A partir desta segunda-feira, o Sportscenter apresenta a série “À Beira da Copa num Porto pouco Alegre” e mostra como os humildes trabalhadores, que não estarão nos jogos da Copa, estão sendo tratados e desrespeitados pelo poder público e pela especulação imobiliária.

São aproximadamente 32 mil cidadãos gaúchos vivendo o drama da desapropriação. Um público equivalente a pouco mais da metade da capacidade, tanto do novo estádio Beira Rio, quanto da novíssima arena do Grêmio.

Muitas das famílias que estão sendo indenizadas não estão conseguindo comprar, com o dinheiro oferecido pela prefeitura de Porto Alegre, uma residência próximo de onde moravam. Muitas famílias estão indo para o litoral do Rio Grande do Sul ou para bairros afastados, a 30 km de suas origens. Algumas que já foram indenizadas, inclusive, prometem invadir novos terrenos. Um problema social que a mídia local esconde do grande público.


Fonte: http://espn.estadao.com.br/noticia/313783_faxina-social-em-terras-gauchas



Remoções forçadas para Copa e Olimpíadas no Brasil serão tratadas em sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU

 Acontece nessa segunda, 4 de março, a 22ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça. A Relatora Especial da ONU sobre Direito à Moradia Adequada, a brasileira Raquel Rolnik, apresentará seu novo relatório, que tem como tema a segurança da posse como componente do direito à moradia. O estudo de Rolnik foi produzido em meio à crise mundial de insegurança da posse, que se manifesta de muitas maneiras e em contextos distintos: despejos forçados, deslocamentos causados por grandes projetos, catástrofes naturais e conflitos relacionados à terra.

Estará também presente na sessão Giselle Tanaka, da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP), que fará uma breve exposição sobre as remoções forçadas no contexto da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. A intervenção da ANCOP - que será publicada na íntegra após o evento - pedirá que o Conselho diga ao governo brasileiro que pare imediatamente as remoções forçadas e, em parceria com as comunidades afetadas, crie um plano nacional de reparações e um protocolo que garanta os direitos humanos em caso de despejos causadas por grandes eventos e projetos.

-- Veja a sessão ao vivo a partir das 5h (horário de Brasília): http://webtv.un.org/ (selecionar Meetings & Events > Human Rights Council)

As remoções forçadas têm sido o grande drama das famílias brasileiras desde o início das obras para a Copa do Mundo e às Olimpíadas. Estima-se que pelo menos 170 mil pessoas estejam passando por despejos relacionados aos eventos, o que corresponde a quase um em cada mil brasileiros. A ANCOP já submeteu denúncias para a Relatoria Especial e para a Revisão Periódica Universal da ONU em outras ocasiões, que serviram de base para a Resolução 13/2010 sobre megaeventos e direito à moradia, para duas cartas sobre o tema (em 2011 e 2012) da Relatoria Especial da ONU para o governo brasileiro, e gerou recomendações específicas do Conselho da ONU ao Brasil durante seu encontro em maio de 2012.

Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa

A ANCOP reúne movimentos sociais, organizações, representantes de comunidades, pesquisadores e outras entidades e pessoas críticas à forma como estão sendo feitas as transformações urbanas para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Em dezembro de 2011, o grupo lançou o dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil, que reúne dados e informações sobre impactos de obras e transformações urbanas realizadas para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Os Comitês Populares estão nas 12 cidades-sede da Copa: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O site pode ser acessado no endereço http://portalpopulardacopa.org.br/.

Mais informações:

Claudia Favaro - 51 9666-9274
Francisco Carneiro - 61 9222-1658
André Lima - 85 9922-2757

Assessoria de comunicação:


Renato Cosentino - 21 8267-2760
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Fonte: ANCOP
Notícia relacionada: Direito à Moradia Adequada: Relatora da ONU apresenta primeiro estudo de segurança da posse

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Comitês Populares e WITNESS editam vídeo-denúncia sobre impactos da Copa no Brasil



Dos dias 26 a 30 de Janeiro, integrantes dos Comitês Populares da Copa de todo o país e representante da ONG WITNESS, de Nova Iorque (EUA), estiveram reunidos em Porto Alegre para editar o vídeo-denúncia nacional sobre os impactos e os crimes cometidos contra os direitos humanos em nome da Copa do mundo. O vídeo é uma parceria da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) e da WITNESS, que já estava na Capital gaúcha realizando uma oficina de videoativismo junto com o comitê gaúcho.


A produção do vídeo nacional iniciou em abril de 2012, quando ocorreu a primeira oficina de videoativismo ministrada pela WITNESS a integrantes dos comitês populares da Copa, em Brasília. Na ocasião, os participantes já gravaram algumas entrevistas sobre o assunto. Também foi combinado que os representantes de cada comitê voltariam, para casa, com a tarefa de fazer mais imagens de violação dos direitos das populações atingidas pelo evento e entrevistas com as comunidades afetadas.



Todo esse material foi trazido para Porto Alegre, já pré-selecionado por cada comitê, para ser editado e montado. Nesses cinco dias, o pessoal deu duro para fazer o vídeo - com a grande ajuda da Priscila, é claro.

Veja mais fotos de toda a trabalheira:




O vídeo-denúncia ficou muito bom. Ele será apresentado pela ANCOP em Março, na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, para que a comunidade internacional pressione o governo brasileiro a tomar medidas emergenciais e definitivas sobre o assunto. 


Em breve, os comitês farão o lançamento dele. Fique atento!


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Oficina de Videoativismo: Agora é Chave por Chave!



Dos dias 21-25 de janeiro de 2013, uma oficina de videoativismo reuniu mais de 20 pessoas em Porto Alegre entre lideranças comunitárias, ativistas e militantes de movimentos sociais. Juntos, os participantes planejaram estratégias para usar o vídeo para fortalecer a resistência e mobilização contra as remoções forçadas na cidade, principalmente as remoções causadas por obras da Copa de 2014. A oficina foi organizada pelo Comitê Popular da Copa de Porto Alegre em parceria com a WITNESS.


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Agradecemos a todos que compareceram, saudamos aos que se juntaram à militância política por um mundo sem violações de direitos!
Agradecemos à Witness que, através da Priscila, se mostrou uma grande companheira na provisão de ferramentas de luta, ferramentas estas que chegam a mudar a maneira de lutar de muitos de nós!

Agradecemos também ao Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo pela presença constante e decisiva, à COOPSUL (Cooperativa Utopia e Luta) pela farta e deliciosa comida, ao Cidade - Centro de assessoria e estudos urbanos, pelo apoio nas partes nem tão emocionantes (mas fundamentais) da organização, ao CPERS pela hospitalidade e a todos que de alguma forma contribuiram neste momento.

AGORA É CHAVE POR CHAVE!

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Que queimem os feios

Ontem foi divulgado o poster oficial da Copa do Mundo de 2014.

Segundo a Rede Globo "A maior preocupação hoje é com o entorno dos estádios, para que tudo fique tão bonito quanto o pôster." Veja o vídeo.

Em Porto Alegre, às 20h15min desse domingo (27 de janeiro), já começaram a queimar os entornos pra fazer terra arrasada, livre pra um recomeço em que "tudo fique tão bonito quanto o pôster." Veja o vídeo.

O entorno da Arena do Grêmio foi o alvo, o número de atingidos chega a 175 famílias.

Pelo menos um Desastre com D, que justifica o uso aluguel social, agora de R$ 400,00, não mais de 500 como no caso da duplicação da Av. Tronco para a Copa, que é um desastre - de gestão.

Enquanto isso se discute qual estádio será o mais bonito.

E que queimem os feios! 



Divulgação/ Fifa
Poster da Copa do Mundo 2014
Pôster da Copa do Mundo 2014: criação foi da agência Crama, que ganhou a disputa com outros dois concorrentes após votação de uma comissão julgadora.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Comitê Popular da Copa promove OFICINA DE VÍDEO-ATIVISMO


BAIXE A FICHA DE INSCRIÇÃO: http://dl.dropbox.com/u/32452118/Ficha%20inscricao.docx
Clique no link, abrirá uma caixa de download, peça para baixar no seu computador. ATENÇÃO:  a ficha contém 8 páginas. Caso não esteja completa por algum motivo após o download, entre em contato pelo e-mail: comitepopularcopa.poa2014@gmail.com
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ENVIE A FICHA DE INSCRIÇÃO PREENCHIDA PARA: comitepopularcopa.poa2014@gmail.com
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Inscrições até dia 17/01/2013.
A confirmação da inscrição se dará até dia 18/01, por e-mail.
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Obs1: o Termo de Compromisso presente na última parte da ficha de inscrição podes ser assinado no primeiro dia da oficina.
Obs2: será fornecido auxílio transporte para quem solicitar na ficha de inscrição. Pedimos que solicite somente se for realmente necessário!
Obs3: A alimentação será garantida todos os dias.
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Telefone para contato: Claudia Favaro, (51) 9666 9274
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UMA ÓTIMA OFICINA A TODOS E AVANCEMOS NA LUTA!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comitê Popular da Copa recebe visita da Presidência da República



Como vocês foram informados de que teriam de deixar a casa? Como aconteceu a notícia da remoção para cada um de vocês? Já foi no Escritório do Projeto Nova Tronco? O que disseram?

Com estas perguntas, André e Marseile, auditores da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República (CISET/PR)i, abordaram os moradores ameaçados de remoção por conta de intervenções para a Copa do Mundo de 2014, em uma visita organizada pelo Comitê Popular da Copa de Porto Alegre, realizada entre 19 e 22 de novembro de 2012.
Iniciou na manhã do dia 19 de novembro, segunda-feira, com uma reunião entre as lideranças dos moradores atingidos e organizações que compõem o Comitê, no Instituto de Arquitetos do Brasil/RS. Lá os auditores foram informados da situação das obras, dos instrumentos de remoção e das violações de direitos à moradia que estariam utilizando recursos do Governo Federal.

No dia 21, quarta-feira, visitaram os principais locais atingidos e falaram com os moradores. Estiveram em vários pontos da Avenida Moab Caldas (Tronco). Dentre as principais visitas, podemos destacar a Vila Maria, uma “área verde” sobre a qual se construirá uma rótula viária monumental e as imediações da Avenida Divisa, pela manhã.


André e Marseile conversam com liderança da Tronco

Pela tarde, visitaram a área do Programa Integrado Socioambiental (PISA), a vila Santo André, no Humaitá, onde lhes foi solicitado, por escrito, informações sobre a nova ponte sobre o Guaíba. Disseram ser uma questão importante, sendo que esta maneira de encaminhar estava de acordo com o que esperavam do Comitê no decorrer da visita: teria de ser por escrito.


PISA: morador relata que casa afundou por causa das obras


Também à tarde, visitaram a Vila Dique, na qual mais da metade da população já foi removida para o condomínio Porto Novo. O grupo de visitantes foi abordado por uma mulher que relatou uma morte por inanição na semana anterior à visita. Na “Dique Velha”, como passou a ser conhecida, o posto de saúde que atendia à comunidade foi relocado junto com os antigos moradores. Além disso, uma das principais vias de acesso será interditada pela ampliação da pista do aeroporto. Os moradores relatam que antes havia “muitas reuniões”, agora só o “abandono”.


Casas demolidas na Vila Dique: ocupantes transferidos para a “Dique Nova”.


A visita ainda passou pela vila Jardim Floresta e pela vila “Dique Nova”(condomínio Porto Novo). Em todas as conversas entre os representantes do Governo Federal e moradores, ficaram evidentes muitas violações de direitos. De forma geral, podemos assinalar, pelo menos:
  1. Prioridade para as obras, não para as pessoas: absoluta falta de informação, resultado da falta de transparência do processo, que visa somente desimpedir o terreno para as obras de mobilidade urbana, não evita a suspensão dos direitos dos atingidos;
  2. Participação social seletiva: somente lideranças alinhadas politicamente são convocadas e, assim sendo, cumprem um papel de pressionar a comunidade e, ao mesmo tempo, legitimar o que chamam de participação.
  3. Autoritarismo e clientelismo: negociação individual na aplicação dos instrumentos de remoção, que são utilizados, em alguns casos, como instrumentos de coação. Em outros, como instrumentos de negociação de benefícios privados com resultados políticos para o poder público. A correlação de forças entre o Município e o núcleo familiar inviabiliza uma “negociação” real;
  4. Inconstitucionalidade de uma série de ações: aplicação de instrumentos de remoção como o Bônus Moradia, que consente e incentiva o déficit habitacional qualitativo, além da utilização não apropriada da Concessão do Direito Real de Uso, apenas para citar dois exemplos graves;

Na quinta feira 22, novamente no IAB, houve a última reunião para serem ouvidas as impressões dos auditores. O que os moradores atingidos e as organizações presentes desejavam saber do Governo, no entanto, era se haveria alguma forma de garantir os recursos para as obras, mas de pará-las nos casos em que haja violações, até que os problemas estejam resolvidos.

Ambos afirmaram que, da parte do Governo Federal, se há violações de direitos não há obras. Os encaminhamentos foram neste sentido: qualquer violação deve ser denunciada através do Comitê Popular da Copa, este as encaminha para a CISET, que irá procurar os responsáveis específicos, e solicitar-lhes que se posicionem sobre o tema, por meio do gabinete da Presidência da República.
i A Secretaria de Controle Interno da Presidência da República (CISET/PR) se constitui de um conjunto de unidades técnicas articuladas, orientadas para o desempenho das atribuições indicadas na Constituição Federal e outros normativos. Tem como funções, entre outras, avaliar o cumprimento das metas, a execução dos programas de governo e dos orçamentos; além de comprovar a legalidade e avaliar os resultados da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da Administração Pública Federa. Controla, entre outros, a Vice-Presidência da República, a Secretaria-Geral da Presidência da República, Casa Civil, Secretaria de Administração e Secretaria de Assuntos Estratégicos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Autoridades divergem sobre repressão da BM a manifestação em POA

Do Portal Sul 21

Um total de oito pessoas presas e inúmeras feridas, incluindo cinco policiais militares. Este foi o resultado numérico do que era para ter sido um manifesto que pedia mais alegria em Porto Alegre. Um ato necessário, segundo o comando da BM e autoridades como o secretário estadual de segurança, Airton Michels. Abuso de força, segundo a Ouvidoria Estadual de Segurança Pública. Ouvir a versão dos agredidos por policiais militares durante a madrugada desta sexta-feira (5), após conflito generalizado no Largo Glênio Peres, quando os presentes dançavam no entorno do mascote da Copa erguido há cerca de 20 dias, só foi possível pela manhã. As ocorrências no momento das detenções foram registradas pela própria Brigada Militar (BM), no Palácio da Polícia.

Leia mais:
- Manifestação termina em batalha campal no centro de Porto Alegre
- Antes da repressão, alegria prevalecia em ato no Centro de Porto Alegre
- Manifestantes voltam à prefeitura para protestar contra repressão em Porto Alegre

Alguns detidos foram liberados na hora, após assinar Termo Circunstanciado por rixa e lesão corporal à brigadianos. Outros saíram mediante pagamento de fiança, sob pena de irem para o Presídio Central. Dos cinco que foram liberados, o estudante da UFRGS Ray Barcelos, de 20 anos, registrou ocorrência por agressão na 17ª Delegacia de Polícia. Acompanhado da mãe, Rosane Barcelos, ele contou que foi acusado de ter quebrado uma viatura. “Eu estava apenas assistindo a roda de capoeira. Estava próximo aos músicos que tocavam no manifesto. Cheguei lá por volta das 22h30, depois da aula”, conta.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Quando o grupo se movimentou da frente da Prefeitura para o Largo Glênio Peres, Barcelos conta que acompanhou a roda que dançou no entorno do mascote. “E, quando eu vi, recebi uma cacetada na cara. Revidei para me livrar da agressão e me afastei. Fui perseguido até a Rua da Praia. Quando me pegaram, me deram bastante com o cacetete na cabeça. Fui ameaçado e me levaram”, disse.

A mãe, residente em Viamão, foi acordada no meio da madrugada com a ameaça da condução do filho ao Presídio Central, caso não chegasse em duas horas no Palácio da Polícia para pagar fiança de R$ 620 reais para liberação do filho. “Eu fiquei apavorada. Este é o dinheiro do meu mês. Ele já mora na Casa do Estudante porque não temos muitas condições. O que sobra eu dou para ele almoçar na universidade. Pedi para o meu chefe emprestado no meio da noite”, afirmou dona Rosane.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Por parte da Brigada Militar, o major do 9º Batalhão de Polícia Militar André Luiz Córdova, informou que cinco policiais foram atendidos com ferimentos no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Um deles teve o capacete quebrado no paralelepípedo e levou oito pontos na cabeça. Uma viatura teve o pára-brisa quebrado e as portas de vidro do Banco Santander na esquina das ruas Uruguai e Sete de Setembro também foram quebradas após perseguições de policiais aos manifestantes. Materiais como pedras, pedaços de madeira e cacos de vidros, que segundo o major foram utilizados pelos manifestantes para reagir no conflito, foram recolhidos pela Brigada Militar.

Testemunhas que viram o confronto dos policiais com os manifestantes enviaram depoimentos ao Sul21. Segundo a jornalista Anelise de Carli, “alguns intencionados a atacar o boneco foram orientados por demais manifestantes a não o fazê-lo. Após esta combinação, a ideia foi dançar em volta do tatu-bola. Todos foram. Assim que as pessoas chegaram de mãos dadas ao redor do boneco, os policiais ficaram assustados e começaram a intimidar, empurrando pessoas. Então, manifestantes revidaram e começou o tumulto, com a invasão do cercadinho do mascote e tudo mais”, disse.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


O professor de História da Escola Monteiro Lobato, Ricardo Santos Soares disse que após a aula foi participar da manifestação com amigos e colegas professores. “O que vi foi uma barbárie. O mais absurdo foi a Guarda Municipal armada correndo as pessoas com arma e porrada, subindo a Rua Uruguai e entrando na Sete de setembro do mesmo jeito”, informou.

Os depoimentos complementam as imagens gravadas por manifestantes na hora das agressões e que também são claras no vídeo das câmeras que controlam a segurança do Largo Glênio Peres. Muitos materiais gravados no local foram apreendidos ou quebrados pela Brigada Militar.

Origem do manifesto não era derrubar mascote da Copa

O manifesto organizado por entidades culturais e ambientais da capital gaúcha, chamado de Defesa Pública da Alegria, reuniu jovens, professores e estudantes universitários a partir do final da tarde desta quinta-feira (4). O objetivo do grupo era criticar as políticas públicas da administração municipal, desde as remoções de famílias para a construção de obras voltadas para a Copa do Mundo de 2014, as ações repressoras em bares e espaços de convívio coletivo e também a privatização de espaços públicos, como a Orla do Guaíba, o Largo Glênio Peres e o auditório Araújo Viana.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Para defender o boneco de sete metros representando o mascote da Copa 2014, derrubado durante a manifestação, foram deslocados cerca de 60 policiais militares do Pelotão de Operações Especiais (POE) do 9º Batalhão de Polícia Militar, além de tropas da Guarda Municipal. A presença do efetivo foi constante, desde o começo da manifestação. Quando o protesto ainda era pacífico, quatro homens já estavam posicionados em frente ao boneco inflável por volta das 17 horas. No meio da noite o número já era de 20 policiais.

Em nota, a Prefeitura de Porto Alegre lamentou o episódio, que qualificou como “vandalismo e depredação do mascote da Copa do Mundo de 2014 desenvolvido pela Fifa, o tatu-bola”. Segundo a Prefeitura, o boneco fabricado na Itália seria levado a outros pontos da cidade, para permanecer até 25 de novembro, quando receberá o nome oficial. O mascote também é exibido nas demais capitais subsedes da Copa de 2014. No texto enviado pela assessoria de imprensa do prefeito José Fortunati, a Prefeitura informa que a Secretaria Extraordinária da Copa contatou a empresa Vonpar, responsável junto à Fifa pela divulgação do mascote, solicitando informações sobre a possibilidade de recuperação ou substituição do tatu-bola.

“Fizemos uma reação técnica proporcional à violência contra policiais”, diz major da BM

De acordo com o major André Luiz Córdova, a postura dos policiais foi dentro das normas constitucionais e em preservação do patrimônio público. “Toda ação gera uma reação. Fizemos uma reação técnica e proporcional à violência que acontecia com os policiais e outras pessoas. Não usamos armas de fogo. Utilizamos instrumentos que impedem riscos de violência contra terceiros e granada de efeito moral para criar condições de coibir a ação baderneira”, qualificou.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


Para o major, as imagens do vídeo não são claras e “fica difícil comprovar quem começou o conflito primeiro”, se foram os policiais ou os manifestantes. “Todos acabam sendo autores da ocorrência. Mas, só teve contato com a polícia, os que se aproximaram a ponto de ameaçar violência”, disse. Porém, quando explica as detenções e prisões, o major assegura que se tratava de um grupo conhecido da Brigada e que promoveu outro protesto em frente à Prefeitura no começo do ano. “Dois tinham histórico de injúrias, depredação ao patrimônio público, perturbação da ordem, arrombamento de residências. Outros dois fizeram agressões aos policiais. Um deles era chileno”, relatou Córdova.

“É lamentável ver a polícia batendo em estudantes e professores”, diz Ouvidora de Segurança

A Ouvidoria Estadual de Segurança Pública que fiscaliza os abusos dos agentes da segurança pública do RS solicitou cópia das imagens e irá analisar se houve abuso de força. À primeira vista e com base no divulgado pela imprensa, a Ouvidora de Segurança, Patrícia Couto, lamenta a postura dos policiais. “Abriremos expediente para acompanhar. Mas, pelos vídeos é possível identificar tudo que aconteceu de fato. É preciso analisar bem. Porém, a Brigada Militar tem que aparecer para agir nas ocorrências e não ficar esperando um conflito. Parece mais uma preocupação com um boneco de plástico do que com a vida das pessoas”, avalia.

Segundo ela, a pergunta que merece resposta por parte das autoridades é se havia necessidade de tamanho aparato de segurança para acompanhar o manifesto. “É difícil atuar em conflitos, mas a BM tem que ter aperfeiçoamento. Uma orientação de mediação de conflito prévio para que ninguém perdesse o controle poderia ter sido feita. A escolha nunca pode ser a prática mais dura. Só o fato de ficar aquele efetivo esperando algo acontecer já é uma provação aos manifestantes. O que posso qualificar por enquanto é que é lamentável usar a polícia para conter professores e estudantes no Centro da cidade”, disse.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


“A intervenção foi necessária”, diz secretário de Segurança do RS

Responsável pelas forças de segurança do estado, o titular Airton Michels concordou com o relatório apresentado pela Brigada Militar. “Ainda não vi as imagens, mas pelo que a Brigada Militar disse, a intervenção foi necessária”. O secretário estadual avalia que os procedimentos feitos pelos policiais foram constitucionais e visavam preservar as pessoas e o patrimônio. “O primeiro pedido de reforço feito pela Guarda Municipal à Brigada Militar foi em razão dos ânimos alterados pelo consumo de bebidas alcoólicas e ameaça de invasão à Prefeitura”, disse.

Ao ser informado pela reportagem sobre outra versão para a ordem dos fatos, Michels disse que a ordem de serviço inicial sempre foi pela preservação do patrimônio público. “A BM estava para proteger todo o entorno do Centro. Mas, quando digo patrimônio, inclui público e privado e também as pessoas”, explicou. Quando questionado sobre a orientação ter ocorrido previamente e o efetivo estar em grande número em frente ao boneco inflável, ele disse que em nenhum momento a ordem foi preservar apenas o boneco.


Foto: Ramiro Furquim/Sul21


A Secretaria de Segurança irá avaliar os demais documentos sobre o episódio e a técnica utilizada pelos policiais. Mas, o secretário Michels adiantou que “não trabalha com a hipótese de constatação futura de abuso de força policial. A ação se fez necessária em dado momento”.

O major André Luiz Córdova informou ainda que, em ocorrendo novos episódios, a repressão será ainda maior. “Hoje foram oito pessoas. Numa próxima vamos identificar todos os envolvidos. Estamos montando uma rede de monitoramento da atuação destas pessoas. Elas ficam se combinando pela internet e não avisam o que vão fazer. Não tem uma liderança entre eles que responda por nada minimamente. Depois, resolvem fazer qualquer coisa e saem fazendo”, disse, frisando que o manifesto da Defesa Pública da Alegria não foi informado às autoridades.

De férias em Porto Alegre, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, mudou sua visão em relação ao caso na medida em que as informações surgiam. Pela manhã, em seu Twitter, fez uma cobrança aos manifestantes por terem destruído o mascote da Copa. “Que história é essa de espaço público. A Copa tem que ter muita coisa pública em espaço público. Seria razoável se pensar melhor as causas”, disse. Poucas horas depois, porém, a ministra escreveu: “recebi vídeos sem o tatu-bola. Não há sentido em destruir símbolo da Copa, mas a polícia não teve preparo para resolver a situação. Agiu como não deve: com violência”.