Texto da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa – ANCOP
Em todos os jogos da Copa das Confederações até o momento, presenciamos a brutal repressão dos Governos em nome dos interesses da FIFA e de seus patrocinadores. Reafirmamos que todos os atos que promovemos foram pacíficos e que não impediam o acesso dos torcedores aos estádios.
Lutando pela liberdade de expressão e manifestação, mas assistimos a ação das forças de repressão ao movimento, que resultaram em muitos feridos e em prisões arbitrárias. Acreditamos que a criminalização dos atos e das lideranças só evidencia o caráter ditatorial do Estado capitalista no Brasil.
Entendemos que a Copa do Mundo é um negócio imposto pela FIFA - conjuntamente com os grandes conglomerados empresariais e compactuado pelo Estado Brasileiro - que viola os direitos humanos. Direitos sociais conquistados com muito esforço no Brasil estão sendo suprimidos para a realização desse negócio. Entendemos que a ação política é um direito fundamental que nos constitui como cidadãos responsáveis pela construção do mundo humano, onde todos, para serem livres precisam ter assegurado seus direitos, especialmente o de falar e o de ser ouvido.
(Foto: Marcos de Paula)
As mobilizações populares já conseguiram reduzir tarifas em várias cidades do país. Para nós, somente a luta popular poderá construir um novo modelo de inclusão e participação social, um novo modelo de cidade que resgata o direito de quem vive nela: o povo. Em união e respeito às lutas que se seguem, convocamos todos(as) e em todas as cidades do Brasil a se unirem no dia 30 de junho em uma grande mobilização no encerramento da Copa das Confederações para juntos na rua reivindicarmos: Copa pra Quem?
Vamos reforçar a luta iniciada em 2010 pelos Comitês Populares que organizados nas 12 cidades sede dos jogos no país, vem apoiando os movimentos sociais e as comunidades na sua luta por direitos ameaçados pelos megaeventos. Já fizemos reuniões com os governos, elaboramos relatórios sobre as violações aos direitos humanos e com apoio de diversas organizações, conseguimos denunciar as violações mundo afora. Em especial, a própria ONU já interveio questionando e exigindo a paralisação das remoções e a construção de política de moradia digna no país, dado que o Minha Casa Minha Vida e seus derivados atendem primeiro aos interesses da especulação imobiliária.
A Jornada de Lutas – Copa pra Quem? tem por objetivo fazer as denúncias de violações de direitos abaixo listadas e exigir respostas urgentes do poder público.
Nas edições anteriores desses jogos mundiais, houve um aumento da exploração sexual de crianças e mulheres. Lutamos para a proteção das crianças, adolescentes e mulheres, alvos constantes das máfias da exploração sexual. Exigimos urgência na elaboração de medidas efetivas e que atendam as prerrogativas do ECA e dos direitos das mulheres, com a criação de um Plano Nacional de Proteção à Exploração Sexual nos Megaeventos. Além disso, exigimos que não sejam decretadas férias escolares durante os eventos, para garantir que as crianças tenham seu direito à educação garantido.
Nos últimos dois anos presenciamos a destruição de estádios para a construção bilionária de arenas de caráter elitista no “padrão FIFA”. Desde o início denunciamos que não era necessário, para se jogar futebol, a realização de quase nenhuma destas obras. Exigimos a reversão da fraudulenta e criminosa privatização do complexo Maracanã e a paralisação do processo de privatização dos outros estádios. Exigimos que os estádios construídos não sejam privatizados e que possam ser utilizados para a promoção da prática esportiva e cultural da população de cada cidade.
Exigimos uma auditoria com participação popular em todas as contas da Copa e das Olimpíadas, desde a construção dos Estádios até a compra de ingressos para autoridades políticas, tendo em vista o uso do dinheiro público para estas obras.
Exigimos que o direito ao trabalho seja respeitado. Não existe justificativa, fora o interesse do lucro de grandes monopólios mundiais, para a proibição do trabalho dos ambulantes, dos artistas e dos camelôs durante os jogos. Repudiamos a exigência de fechamentos de locais de trabalho ou da venda de produtos exclusivos dos patrocinados.
(Foto: Ricardo Matsukawa)
Exigimos que a criatividade cultural e artística brasileira seja valorizada e promovida. Queremos que a renda da Copa venha para os brasileiros e que nossos produtos locais sejam oferecidos aos turistas.
Exigimos que o mascote e todos os nossos símbolos que estão sendo usados para divulgar a Copa do Mundo não sejam propriedade da FIFA. Devem ser patrimônio público e, portanto, de livre uso por parte do povo.
Exigimos que os governantes parem de expulsar a população em situação de rua das regiões próximas aos estádios e dos centros das cidades.
Defendemos que ainda é possível realizar uma Copa do Mundo diferente. Uma Copa que olhe primeiro para os direitos do povo brasileiro e somente depois para as exigências da FIFA. Uma Copa que promova a inclusão social e fortaleça o direito a cidade, ao invés de uma Copa que induza a exclusão e a privatização dos espaços públicos. Não queremos que a Copa seja regulada por leis de exceção que favorecem a repressão.
As recentes conquistas das ruas e a solidariedade recebida dos jogadores da seleção brasileira e diversos outros artistas e esportistas mostram que somos muitos. Por isto lutamos, por isto vamos às ruas. Por isto convidamos todos e todas para o dia 30 de junho. Venha para a rua e questione com a gente: Copa para Quem?
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