segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Será que sai mesmo? Do JC: Comerciantes da Vila Tronco serão instalados em dois camelódromos

Matéria publicada na edição impressa do Jornal do Comércio de 8 de Agosto


Comerciantes da Vila Tronco serão instalados em dois camelódromos

Dos 136 negócios que terão de deixar a área, 52 já optaram por receber indenizações 

Rafael Vigna
SECOPA/DIVULGAÇÃO/JC
Uma das opções prevê a construção de 72 unidades de 15 metros quadrados ao longo da Moab Caldas
Uma das opções prevê a construção de 72 unidades de 15 metros quadrados ao longo da Moab Caldas

Uma das intervenções mais complexas realizadas em Porto Alegre com vistas à preparação da cidade para receber a Copa do Mundo no ano que vem prevê a remoção de 1,5 mil famílias que vivem nas proximidades da avenida Tronco (Moab Caldas). Criar as condições para a duplicação dos 5,3 km da via, que também contempla a abertura de um corredor de Bus Rapid Transit (BRT), se tornou uma dor de cabeça para a administração municipal.

Até o momento, 350 famílias optaram pelo bônus moradia (R$ 52 mil para compra de uma nova casa), foram pagas 30 indenizações (acima de R$ 50 mil) e 60 unidades habitacionais ingressaram no sistema de aluguel social (que disponibiliza cerca de R$ 500,00 mensais enquanto não forem concluídos dois empreendimentos do Minha Casa Minha Vida, em área próxima à rua Silveiro). Além disso, existem 400 processos em aberto, o que totaliza 840 encaminhamentos e deixa um passivo de 685 reassentamentos.

No entanto, a chamada Grande Cruzeiro abarca um conglomerado de 22 vilas. Sete delas (Cristal, Cruzeiro, Figueira, Mariano de Matos, Maria, Silva Paes e Tronco) são atingidas diretamente pelas obras em andamento. Na região, conforme explica o secretário adjunto do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Marcos Botelho, ao longo dos anos se desenvolveram muitas atividades comerciais na área. Lancherias, mercearias, ferragens, pequenos depósitos de material de construção, borracharias, marcenarias e salões de beleza podem ser facilmente avistados às margens da avenida. Ao todo, segundo dados de um estudo socioeconômico encomendado à empresa Encorpe, 136 estabelecimentos comerciais terão de ser removidos para a conclusão do trecho.

Do total, segundo levantamento do Demhab, com data de 17 de julho, 52 optaram por receber a indenização, restando 84 estabelecimentos comerciais ainda sem destino certo. Por isso, os pequenos comércios afetados pelas melhorias planejadas estão no foco das atenções do poder público municipal. Dois projetos de Centro Populares de Compras, ainda em fase preliminar, estão em debate nos mais diversos órgãos municipais. A meta é disponibilizar todos os espaços para realojar os estabelecimentos comerciais da região.

Conforme o presidente da entidade Tronco Postão e coordenador-geral da Comissão de Habitação da Grande Cruzeiro, Michael dos Santos, os camelódromos são uma demanda da própria comunidade e que foram acatados durante audiência pública realizada em novembro. Pelo documento, a Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) se compromete em encaminhar as discussões nas esferas institucionais. Da reunião, nasceu o primeiro projeto preliminar, de autoria do arquiteto Ernani Borges. A planta, que considera uma área de esquina da Moab Caldas com a rua Dona Malvina, contempla três andares com 72 lojas de 15 metros quadrados cada, além de sete lojas-âncoras com 100 metros quadrados e estacionamentos em desnível para 48 veículos.


Anexo comercial ao terminal de BRT previsto para o bairro Cristal está em análise 

Outra opção para reassentar os 84 estabelecimentos comerciais está em fase de análise na Secretaria Municipal de Gestão. A ideia é incluir o projeto de um anexo ao Terminal de Integração Cristal - previsto para organizar o fluxo de ônibus e BRTs ao longo de 4,7 km que separam as avenidas Padre Cacique e Salgado Filho.

A área que fica atrás do BarraShoppingSul e do Jockey Club, na confluência das avenidas Chuí e Icaraí, está inserida em um conjunto de melhorias na zona Sul da Capital, que dispõe de recursos na ordem de R$ 119 milhões. As intervenções previstas também envolvem a duplicação das avenidas Beira-Rio (Edvaldo Pereira Paiva) e Padre Cacique. Por isso, conforme explica o engenheiro e coordenador técnico das Obras da Copa pela Secretaria Municipal de Gestão, Rogério Baú, as unidades comerciais têm de ser pensadas de maneira a aproveitar as novas condições de mobilidade urbana da região.

“Estamos avaliando as demandas, e o principal aspecto deve ser a criação de uma interface dentro da própria estação que não prejudique áreas de manobra do sistema BRT. Isso envolve um esforço coletivo de técnicos da EPTC e Smov. Temos também de considerar os recursos disponíveis para o Terminal de Integração e avaliar o produto arquitetônico que permita o melhor aproveitamento daquele espaço”, comenta.

Entretanto, o terminal ainda não foi licitado. A previsão é de que o edital seja lançado apenas em dezembro.  Por isso, o presidente da Associação de Moradores da Vila Tronco (Amovtron), Paulo Jorge de Cardoso, afirma que nenhuma das duas opções deve estar disponível antes de 2016. Segundo o líder comunitário, a opção de camelódromo ao longo da avenida Tronco atende melhor às demandas da região. “Gostaria de ver as duas opções juntas, pois isso melhoraria muito o perfil socioeconômico da região”, considera.


Perfil dos estabelecimentos pode atrapalhar plano de realojamento

O presidente da entidade Tronco Postão e coordenador-geral da Comissão de Habitação da Grande Cruzeiro, Michael dos Santos, identifica um empecilho para o remanejamento dos espaços comerciais instalados na região. Isso porque boa parte dos estabelecimentos está distante do ramo alimentício e de confecções, que se enquadrariam melhor dentro das propostas em análise. “Não se pode transferir uma borracharia ou uma ferragem para um camelódromo”, sentencia.

A opinião é compartilhada pelo secretário adjunto do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Marcos Botelho, que ainda confia em um número maior de resoluções via indenização. Se somadas às moradias, já foram disponibilizados R$ 5,5 milhões para as desapropriações.

No caso dos estabelecimentos comerciais, as avaliações podem variar entre R$ 10 mil e cerca de R$ 150 mil. Uma licitação realizada em agosto de 2012 foi vencida pela P4B Global. A  empresa foi designada para elaborar 650 laudos, a R$ 324,00 cada. Conforme Botelho, o valor leva em conta o estado de conservação das benfeitorias - como piso, pintura, estrutura e azulejos - e o ponto comercial. “Assim, um estabelecimento do Cristal será mais bem remunerado do que um da Vila Cruzeiro. Isso mesmo naqueles casos de comércios em áreas irregulares”, exemplifica.

A avaliação, de acordo com Santos, não considera o faturamento mensal de estabelecimentos comerciais. Além disso, o líder comunitário critica a morosidade dos laudos que podem levar mais de 60 dias para serem emitidos.



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