A vitória final ainda está por vir: por um Maracanã Público e Popular
O momento é de comemoração. Após mais de dois anos de luta contra o
custo das reformas, a elitização, a privatização, as ilegalidades do
processo e as demolições previstas para o Complexo do Maracanã, as
vitórias começam a aparecer.
A permanência do Parque Aquático Julio Delamare, do Estádio de
Atletismo Célio de Barros e da Escola Friedenreich, bem como a retomada
da Aldeia Maracanã por indígenas que defendem aquele espaço desde 2006
são resultados do esforço e da valentia de muitas pessoas e grupos que
foram às ruas e lutaram por direitos e por uma cidade mais justa.
Estamos todos em comemoração!
Mas é preciso lembrar: temos que seguir atentos e fortes. O momento é
ainda de muita luta. A reação do consorcio Maracanã S/A, que soltou
nota afirmando que “permanece à frente da concessão do Maracanã e que
vai encontrar uma alternativa à sua viabilização e continuidade”, é uma
afronta ao sentimento de todos os brasileiros que questionam o absurdo
contrato de privatização.
O Maracanã, que nunca deixou de ser um símbolo nacional em função do
futebol e da participação popular, nos últimos tempos serviu como modelo
máximo de uma política excludente, sem transparência e corrupta. As
seguidas reformas, que consumiram quase dois bilhões de reais, e sua
venda por migalhas (o consórcio pagaria R$ 5,5 milhões por ano ao
governo para lucrar por 35 anos com o estádio) não passaram
despercebidos, como talvez imaginassem o governador Sérgio Cabral e o
secretário da Casa Civil Régis Fichtner.
Também não passaram despercebidas as ilegalidades do processo de
privatização, que é questionado na Justiça. Os casos se acumulam: o
favorecimento à empresa IMX, de Eike Batista, que preparou o edital de
concessão no qual ela mesmo concorreu e ganhou; a farsa da “audiência
pública” em novembro de 2012; e o valor pago, que não recupera nem 15%
do que foi investido em reformas. A população está atenta e cobra um
Complexo do Maracanã público e popular.
Não podemos entender as últimas notícias como a devolução definitiva
do Complexo do Maracanã para o povo. O governo do estado foi forçado
pelas ruas a abrir mão das demolições, mas ainda se esquiva da anulação
da privatização. E, naturalmente, os empresários que se pensam donos de
todo aquele espaço vão seguir uma administração que tem somente a
perspectiva de fazer altos lucros.
É fundamental a manutenção do pleno uso público do Complexo do
Maracanã. Não basta a não-demolição do Julio Delamare e do Célio de
Barros, queremos um parque aquático e um estádio de atletismo que sirvam
exclusivamente ao esporte, à saúde, ao bem-estar e à educação da
população, com o fortalecimento de projetos sociais que atendam a
pessoas de todas as faixas etárias. Não podemos deixar que o governo e
os empresários tenham a audácia de querer transformá-los em clubes
exclusivos e pagos.
Não basta a não-demolição da Friedenreich: a prefeitura deve manter
os altos padrões de ensino ali realizados pelos professores e gestores e
ouvir as demandas de todo o corpo de funcionários e dos pais de alunos
que bravamente defenderam a escola. O mesmo serve para a Aldeia
Maracanã, onde as decisões e soluções para o espaço devem ser feitas
atendendo aos grupos indígenas que ali formaram uma das histórias mais
valentes de resistência e convivência cultural que a cidade já viu.
Não basta, ainda, um ginásio do Maracanãzinho que seja transformado
em uma casa de espetáculos de luxo. Sua função é fundamentalmente
esportiva, com o treinamento de atletas de alto rendimento e de projetos
sociais de inclusão através do esporte, servindo também a eventos de
caráter público.
Exigimos a assimilação do Complexo do Maracanã como uma das
principais áreas públicas da cidade. Exigimos que o governo entenda que
este é um espaço que deve servir prioritariamente ao esporte, à saúde, à
cultura, à educação, ao lazer e ao bem-estar do povo carioca. Exigimos
que o complexo seja compreendido de forma integrada com os equipamentos
públicos e privados do entorno, como a UERJ, a Quinta da Boa Vista, o
Museu Nacional, as quadras das escolas de samba, o estádio de São
Januário, a Feira de São Cristóvão e o Parque Glaziou, cuja instalação
ao lado do Maracanã deve ser retomada pelo governo.
Exigimos, por fim, que o histórico Estádio Mario Filho, após ser
descaracterizado de forma criminosa, possa receber novamente todo
torcedor brasileiro, independente de poder aquisitivo ou classe social. A
magia do estádio do Maracanã, legado de inúmeras gerações que pisaram
naquele lugar, só poderá ser resgatada se ele for novamente entregue à
população, com a reativação de amplos setores populares que devem ter
preços acessíveis fixados de acordo com o salário mínimo, além de
cadeiras removíveis, como forma de ampliar a capacidade do estádio e
permitir as manifestações festivas e as coreografias que sempre
caracterizaram os jogos no Maracanã.
A não assimilação destas demandas populares é a sinalização de que a
mobilização pelo Maracanã deve continuar com força máxima. A rua é nosso
lugar e de lá não sairemos até a vitória completa. Governo do estado,
Odebrecht, IMX e AEG devem ter consciência disso.
Pela anulação imediata da privatização do Maracanã!
Por um Maraca Público e Popular!
O MARACA É NOSSO!!
Por um Maraca Público e Popular!
O MARACA É NOSSO!!
Rio de Janeiro, 7 de agosto de 2013.
Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro
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