No
dia 14 de Março, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul anunciou o
indiciamento de seis jovens, integrantes do Bloco de Lutas pelo
Transporte 100% Público, como responsáveis pelos danos materiais e
físicos ocorridos durante os protestos contra o aumento da passagem,
no ano passado em Porto Alegre (RS). No inquérito, são acusados
pelos crimes de posse e emprego de explosivos, furto qualificado,
dano simples e qualificado, lesão corporal e constituição de
"milícia privada".
Quem
participa da organização do Bloco de Lutas, esteve nas mobilizações
ou até mesmo acompanhou os protestos pela mídia, conhece esses
jovens. Todos eles têm ligação aberta com organizações políticas
de esquerda. Todos eles foram entrevistados e participaram de debates
na mídia, seja a corporativa, seja a alternativa. São pessoas que,
assim como várias outras, devido à luta e às conquistas do Bloco,
acabaram se tornando públicas.
E
são os mesmos que já vêm sendo criminalizados pela Polícia Civil,
chefiada pelo governador Tarso Genro. Em outubro de 2013, alguns
deles tiveram suas casas invadidas e vasculhadas pela polícia, que
até mesmo apreendeu livros de cunho marxistas e anarquistas. Na
época, o Ministério Público negou a prisão preventiva desses
jovens.
O
inquérito utiliza uma prática da Polícia já conhecida e sofrida
pelos movimentos sociais gaúchos. A partir da exposição pública
na mídia ou em suas próprias organizações, pessoas tidas como
lideranças são indiciadas, para que todos os demais integrantes se
sintam coagidos e como forma de exterminar os movimentos de
contestação. O governo estadual, que se vangloria e defende o pouco
uso da força física pela polícia, investe na violência e na
criminalização política, que pode ser tão agressiva e tão
devastadora quanto uma bala de borracha, algemas ou gás
lacrimogêneo. Acusar estes jovens de formarem uma "milícia
privada" é totalmente incoerente e irresponsável.
O
Comitê Popular da Copa Porto Alegre se solidariza aos indiciados e
suas organizações e exige a extinção e arquivamento deste
inquérito, que criminaliza os que lutam. Infelizmente, este é mais
um capítulo da violência dos governos à periferia e de
criminalização dos movimentos populares e sociais. Essa mesma
violência promovida pelas polícias e pelos governos (e que se
amplia às esferas federal, governo Dilma - e municipal, governo
Fortunati) é a mesma sofrida pelos moradores das periferias de Porto
Alegre e demais cidades do país: violência física e moral numa
abordagem de "rotina" das polícias; a violência em não
ter rede de esgoto encanado, luz e água; a violência de não ter
creches públicas, para que os pais possam trabalhar, e com a
tranquilidade de que seus filhos estarão bem; a violência de não
existirem escolas e saúde pública gratuita e de qualidade; a
violência de pegar ônibus lotados, demorados e caindo aos pedaços,
pagando passagem cara; a violência de não ter praças e parques
públicos, arborizados e bem iluminados para passear, bater uma bola,
conversar e tomar chimarrão; a violência de não terem moradia
decente e, ainda se estiverem no caminho das obras da Copa do Mundo
FIFA, serem despejados ou jogados pela prefeitura em qualquer lugar
da cidade. E se estes moradores se revoltarem, se organizarem e forem
à luta para reivindicar, terão a ação policial como resposta aos
seus anseios.
Uma
violência que tem ficado maior e mais repressiva com a aproximação
da Copa do Mundo no país. Em nome da dita "paixão nacional, o
futebol", os governos aplicaram bilhões de reais em estádios
caríssimos e que, alguns, não terão mais uso após o evento.
Empreiteiras estão ganhando milhões com as construções das
estruturas do evento e com as obras de mobilidade nas cidades, que
estão sendo feitas a toque de caixa, com custos mais elevados do que
a projeção inicial e desrespeitando a vontade e os direitos da
população.
E
tudo isso, para jogos em que a grande maioria dos brasileiros não
poderão assistir nos estádios, pois não terão dinheiro para
comprar ingresso. E nem mesmo poderão chegar perto do estádio, pois
a FIFA, com a aprovação da maioria de nossos deputados e senadores,
determinou a Zona de Exclusão - em um perímetro de 2km ao redor das
Zonas FIFA (estádios, Fan-fest, locais de treinamento e hospedagem
das seleções), somente poderá entrar quem tiver ingresso e não
poderão ter ambulantes e nem bares vendendo comidas e bebidas que
não sejam as dos patrocinadores (Coca-Cola, Mc Donalds e cervejas da
AMBEV).Tudo isso protegido pela Força Nacional de Segurança.
A
aprovação de diversas leis de exceção,
como a “Lei de Garantia
da Ordem” e a “Lei Antiterrorismo”,
vem para assustar e criminalizar os que lutam. Milhões estão sendo
investidos para armar as polícias.
O
Comitê Popular da Copa Porto Alegre sempre esteve nas ruas com quem
está lutando e convidamos as demais pessoas a se somarem à gente. É
preciso entender a mobilidade como acesso à
cidade: uma cidade de todos e para todos. Para
garantir que o transporte seja 100% público,
de qualidade e com preço acessível,
nos manteremos nas ruas mobilizados!
Os governos e suas polícias não nos calarão e não nos deterão a reivindicar o que é nosso e de direito!
Em 2014, #NãovaiterCopa, #Vaiterluta!
Comitê
Popular da Copa Porto Alegre - Março de 2014
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