Na noite de quinta-feira, dia 19 de abril, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa realizou uma manifestação na Bienal do Livro, em Brasília. Os manifestantes ocuparam o stand do Comitê da Copa Fifa 2014, que foi organizado pelo governo para mostrar para a população de Brasília o "magnífico legado da Copa 2014".
O grupo contou com representantes dos comitês populares de 11 das 12 cidades-sede da Copa, que estão reunidos na Capital Federal para uma oficina de vídeos. Os manifestantes levaram faixas com inscrições como "Copa sim, despejo não", "Não à Lei Geral da Copa" e "Estádio não é shopping". Enquanto distribuíam panfletos, receberam o apoio de muitos dos presentes na bienal, que cantaram e caminharam junto com os manifestantes.
Confira a nota distribuída à população:
Nota sobre o “Comitê da
Copa” na Bienal do Livro
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
A Articulação
Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP), reunida em Brasília entre os
dias 19 e 22 de abril, tomou conhecimento da realização da 1a Bienal
do Livro de Brasília e saúda com louvor iniciativas de promoção e socialização
do conhecimento e do acesso à cultura e à leitura.
Neste sentido,
a ANCOP, organização da sociedade civil que luta por diminuir os impactos
negativos da Copa do Mundo no Brasil, tem o prazer de ocupar a banca criada
pelo Governo do Distrito Federal (GDF) na Bienal caracterizada como “Comitê da
Copa”.
Infelizmente
esta ocupação não se deu a partir do diálogo democrático e saudável entre governo
e sociedade civil. Este diálogo inexiste, não só no DF, mas em todo o Brasil,
quando se trata de Copa do Mundo. A perspectiva do governo continua sendo a do
não acesso à informação, à divulgação falsa de informações e de tentar “vender”
um evento que cada dia mais retira direitos do povo, favorece a privatização, a
especulação imobiliária e promove o bilionário desvio de recursos e prioridades
públicas.
Lamentamos a
não abertura de diálogo por parte do governo do DF e demais órgãos
governamentais no sentido de promover o devido acesso à informação por parte da
população, ainda mais em um evento como a Bienal do Livro. E, no intuito de
colaborar com a precisão da informação - sentido importante de uma Bienal -
gostaríamos, nestas poucas horas em que ocuparemos o Comitê da Copa na Bienal (ainda que sem a permissão do GDF) apresentar
alguns dos legados que a Copa do Mundo vem trazer para o DF e o país.
a) 1 em cada
1.000 brasileiros(as) estão perdendo suas moradias em virtudes das obras da
Copa do Mundo e, até agora, a única iniciativa do governo federal foi de fazer
debate com o Banco Mundial no sentido de criar uma política oficial de
remoções, fortalecendo, portanto a criminalização e a retirada de direitos. Nos
níveis subfederais, a violência e falta de diálogo caminha num ritmo cada vez
mais forte.
b) As relações
obscuras com a FIFA fazem com que o país se subordine a uma empresa privada,
que coloca suas relações comerciais acima da soberania e constituição nacional,
forçando a aprovação da Lei Geral. Denunciamos esta Lei que, além de
inconstitucional, promove o monopólio dos lucros aos patrocinadores da FIFA e
retira direitos sociais do povo. A Lei Geral que hoje tramita no Congresso não
é necessária para a realização da Copa do Mundo. Ela não trata de esportes, mas
de negócios privados e retirada de direitos.
c)
Milhares de brasileiros trabalham arduamente nos estádios e não têm seus
direitos respeitados, não tendo sido atendidas as condições mínimas de
segurança. Os 12 estádios, que já consomem bilhões de recursos públicos (entre
gastos e isenções fiscais), poderiam ser destinados a outras ações sociais, no
entanto, também caminham para a privatização - o que levará ao aumento do valor
do ingresso, perda de liberdade do torcedor e do comércio e da cultura popular
ao redor do estádio;
d)
Num momento em que o setor público se prepara para receber a Lei de Acesso à
Informação, os mesmos governos continuam com a política da propaganda mentirosa
sobre a Copa, os acordos com a FIFA continuam inacessíveis à população,
favorecendo o jogo de influência nefasto e as chances de licitação fraudulentas
e superfaturadas.
e)
Temos ciência do impacto que o turismo com a Copa pode trazer para o país, mas
negamos as restrições de acesso e comércio ao povo brasileiro, que parece não
ser bem vindo à sua casa, bem como a política de segurança que, ao invés de
proteção, traz terror às comunidades e criminalização da pobreza, favorecendo a
especulação imobiliária e a privatização dos espaços públicos. Também
denunciamos a ausência de políticas de combate à exploração sexual e outras
medidas de empoderamento e promoção da cidadania.
Brasília, 19 de abril
de 2012.